24-01-2011 19:56

Portugal visto de fora

 

Recentemente, perguntei a um economista estrangeiro (suíço), que acompanha a economia portuguesa e cuja opinião prezo, qual considerava ser o maior obstáculo ao crescimento nacional.
Depois de pensar um momento, disse: falta de mobilidade. E foi dando exemplos.

Falta mobilidade estudantil. Na maioria das economias desenvolvidas, os estudantes saem de casa dos pais por volta dos 17/18 anos para estudar. Este abandono do lar impõe o desenvolvimento de características de independência, capacidade de resolução de problemas e criatividade. Estimula, em muitos casos, a conjugação de empregos a tempo parcial com a actividade académica como complemento de rendimento. Em Portugal, embora o programa Erasmus esteja a mudar comportamentos tradicionais, os jovens, efectivamente, tendem a sair de casa dos pais tarde. Para este facto, aparentemente, contribui a quase inexistência de mercado de arrendamento e a precariedade laboral a que muitos jovens estão sujeitos.

A mobilidade geográfica é limitada. Os portugueses tendem a procurar emprego na zona da sua residência e manifestam alguma relutância em afastar-se. Nas novas gerações, existe maior mobilidade. Contudo, a procura privilegia locais de trabalho próximos da área de residência ou na vizinhança da rede de apoio tradicional (família mais chegada). A aquisição de casa própria imposta pela rarefacção de alternativas de arrendamento e a escassez (em fase de correcção) de redes de apoio ao nível de creches e de auxílio a idosos podem ajudar a justificar estes comportamentos.

A mobilidade laboral é exígua. Apesar dos progressos recentes, tradicionalmente, favoreciam-se situações laborais duradouras, quer ao nível da empresa, quer ao nível da área funcional. Na geração actualmente com 60 anos, predominava o emprego para a vida, quer no que respeita à empresa, quer à área de trabalho, olhando-se com desconfiança quem havia mudado frequentemente de emprego, de função ou departamento. Entre as pessoas que hoje têm cerca de 40 anos, a realidade é diversa, os "curricula" apresentam maior número de experiências profissionais, embora ainda se esteja aquém do que se observa na maioria dos países desenvolvidos. A parca falta de mobilidade laboral estará associada a menor propensão a correr riscos, mas também à percepção de dualidade no mercado de trabalho. É no grupo dos trabalhadores com mais de 50 anos que se encontra a maior fatia do desemprego de longa duração. Os mais velhos receiam que aventuras laborais acarretem perda do posto de trabalho, empurrando-os para o desemprego permanente. Por seu turno, as novas gerações, frequentemente, caiem numa sucessão instável de trabalhos, eventualmente pouco estimulantes e gratificantes; mas, sobretudo com reduzidas perspectivas de progressão.

A mobilidade social é condicionada. Países com histórias de fortes movimentos imigratórios tendem a revelar-se sociedades com assinalável mobilidade social, com gosto pelo empreendedorismo, com vocação para o risco e aceitação do fracasso. Como está largamente documentado, não é a melhoria geral colectiva que estimula os agentes económicos a perseverar, mas a existência de capacidade de obtenção de progressos relativos. Esta potencialidade é conferida pela mobilidade social. Tal não quer, contudo, dizer sociedades fortemente assimétricas (bem, pelo contrário). As sociedades do centro e norte da Europa têm conseguido oferecer mobilidade social, evitando assimetria social disruptora. Tende a arriscar quem considera que poderá ser recompensado pelo risco incorrido. Sociedades com fraca mobilidade social afiguram-se desprovidas do principal estímulo ao empreendorismo: superar os pares mediante esforço despendido e riscos assumidos. Dizia para concluir: Portugal caracteriza-se por uma longa história de emigração bem sucedida e por forte abandono escolar.
Estes factos parecem apontar para a percepção de insuficientes recompensas internas para esforço e/ou risco: um sinal de fraca mobilidade social.

 

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